Stefânia Gola, do Ó do Borogodó

"Eu sou dona de boteco, e hoje eu sei ser dona de boteco", diz orgulhosamente Stefânia Gola, a mulher por trás do Ó do Borogodó. A lendária casa de música de Pinheiros, especializada em samba e choro, é símbolo de resistência. Instalado na mesma casa desde 2001, o Ó, como é carinhosamente chamado, nasceu de um antigo sonho de Léo Gola (1973-2020), que convocou a irmã para fazer parte dele.

 

Naquela época, começo dos anos 2000, a então produtora de TV havia acabado de voltar de uma temporada de 2 anos no exterior e não via mais sentido no trabalho que tinha feito a vida inteira. Percussionista, Léo tinha entrado de sócio no bar onde costumava se apresentar em rodas de samba, realizando um desejo de toda uma vida. Um mês depois se viu obrigado a gerenciar o local sozinho. Foi quando convocou Stefânia para ajudá-lo na missão.

 

"É curioso porque no fim das contas o que eu faço até hoje ainda é produzir. Mas produzo aquilo que eu quero, em outro ritmo, de uma maneira mais cuidada, mais aprofundada e mais delicada", conta Stefânia, uma mulher de jeito mais sério, mas cujo sorriso se abre, enorme, quando fala de seu empreendimento. "É que eu gosto mais do Ó do que de qualquer outro lugar no mundo, tenho um amor muito gigante por ele."

 

Do botequinho enxuto com mesas de bar espalhadas pela calçada, o Ó em apenas seis meses expandiu-se para o espaço que hoje luta para continuar ocupando. E, nesse lugar, o samba e o choro acabaram se expandindo. Afinal, os irmãos foram criados na Zona Norte da capital paulista, e a música vinha do berço.

 

Stefânia Gola, do Ó do Borogodó

 

Sem dinheiro, mas cheios de amor à volta, os Gola convocaram os amigos para ajudar na pintura do imóvel e foram, aos poucos, definindo a cara do espaço, um lugar "simples, mas muito impactante", nas palavras bem escolhidas pela própria dona. "O bar foi criando sua personalidade a partir do que ia sendo vivido ali, tem músico que se apresenta semanalmente no Ó há 22 anos, é uma construção coletiva. Não tivemos um sócio-investidor que decidiu que o tema dali seria o samba", explica.

 

Dona-coruja, Stefânia define o Ó como o lugar mais legal de São Paulo. E é naquele salão onde Stefânia labuta, mas também dança, durante as rodas de samba e choro. "O Ó é um portal no tempo, não existe um lugar como ele aqui", define. "É um espaço de transformação, um espaço onde eu pude experimentar o que eu acredito".

 

"Eu sei absolutamente tudo sobre o Ó, aprendi na raça e hoje sei fazer qualquer função do bar: da cozinha ao bar, passando pelo caixa, salão, até limpar banheiro. Só não toco, mas faço coro", brinca. "O Ó nasceu de um sonho do meu irmão e hoje meu sonho é que, quando eu tiver 80 anos e estiver cansada de trabalhar, o Ó do Borogodó continue, de preferência com uma mulher à frente".

 

Ó do Borogodó: Reduto de samba e choro num casarão em Pinheiros, o Ó do Borogodó é para ouvir música, para dançar, para comer comidinhas simples, mas caprichadas, como o sanduíche de linguiça na ciabatta com rúcula e chimichurri e o tradicional Boulevardier, a base de Jack Daniel’s,  vermute tinto e casquinha de laranja.

 

Rua Horácio Lane, 21 - Pinheiros, São Paulo. Qua e qui, das 21h às 2h. Sex e sáb, das 22h às 3h. Dom, das 20h à 0h30.